sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Irradiação garante alimentos mais seguros para o consumo

Uma técnica eficiente para conservar alimentos e torná-los mais seguros para o consumidor. É o que a radiação ionizante pode fazer por diversos produtos alimentícios consumidos em todo o mundo. A tecnologia é aprovada por mais de 30 países para diferentes tipos de alimentos. Seguindo essa tendência mundial, a legislação brasileira também aprova o uso da radiação. O Ipen coordena projeto da Agência Internacional de Energia Atômica sobre irradiação para segurança alimentar e saúde humana.
Atualmente, no país, a tecnologia é empregada em especiarias, para eliminar fungos e microorganismos. Mas essa realidade começa a ganhar novos contornos. No último dia 27 de julho, produtores da região do Vale do São Francisco, em Pernam-buco, autoridades e interessados na difusão da tecnologia no país se reuniram com pesquisadores do Centro de Tecnologia das Radiações (CTR) do Ipen para conhecer os resultados de testes com mangas irradiadas. Já foi assinado inclusive um acordo de cooperação técnico-científica entre a Embrapa Semi-Árido, Valexport (Associação de Produtores e Exportadores de Hortaliças e Derivados do Vale São Francisco, em Petrolina - PE) e o Ipen. O acordo conta com a cooperação do Centro Regional de Ciências Nucleares do Norte e Nordeste (CRCN), vinculado à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

A exportação da fruta, assim como diversos outros produtos, envolve exigências de fiscalização fitossanitária. São barreiras que impedem que pragas agrícolas sejam disseminadas de um local para o outro. Para cumprir as exigências legais de exportação, as mangas passam por um tratamento térmico por um período determinado. Quando o destino da fruta é a Europa, o lote é submetido à temperatura de 52 graus Celsius durante cinco minutos, mas se o produto tiver como destino final os Estados Unidos, o tempo é de 70 minutos e a temperatura, 46 graus.
O uso de fumegantes, alternativa tradicional da indústria, implica em danos ao meio ambiente, além de reunir compostos potencialmente cancerígenos, como o brometo de metila. Submeter os alimentos em sua embalagem final à radiação ionizante é um processo eficiente e seguro, que não os torna radioativos. No Brasil, resolução da Anvisa (RDC 21, de 2001) estabelece que a dose mínima seja suficiente para alcançar a finalidade pretendida e a dose máxima seja inferior àquela que comprometa propriedades funcionais ou qualquer outro atributo do alimento.
Durante todo o ano de 2006, foram realizados, no Ipen, testes físico-químicos em mangas irradiadas. O projeto envolve ainda testes de transporte do produto para o exterior e estudos de viabilidade econômica do irradiador na região, já em andamento. O pesquisador do CTR Paulo Rela explica que o Brasil possui todas as condições para construir irradiadores. O projeto do irradiador multipropósito do instituto, dedicado a pesquisas, foi inteiramente desenvolvido no país, sob a sua coordenação. O licenciamento e a fiscalização das instalações, chamadas plantas de irradiação, são competência da CNEN.

O estudo sobre a irradiação de mangas considerou o potencial de exportação da fruta, pois o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, depois de China e México. Este último constitui-se no maior exportador, e o Brasil ocupa a segunda posição. Na relação comercial com os Estados Unidos, que tem interesse na importação do produto e possui barreiras fitossanitárias bastante restritivas, ainda falta a assinatura de um protocolo que permita receber alimentos irradiados do Brasil.
Em agosto, as pesquisadoras Susy Frey Sabato e Josenilda Maria da Silva, respectivamente do Ipen e do CRCN, analisaram lotes de manga embarcados de São Paulo para Montreal, no Canadá. O objetivo é comparar o lote controle, que não recebeu nenhum tratamento, com o lote tratado pela radiação. O Canadian Irradiation Center, onde os testes serão feitos, foi o laboratório onde Sabato desenvolveu a parte experimental de seu doutoramento, concluído há cinco anos.

Processo

Para desinfestação, as doses variam entre 0,25 e 0,75 quilogray. O processo requer validação da fonte e do procedimento. Ensaios em laboratório que avaliam aspectos como acidez, PH, perda de massa, matu-ração e cor permitem verificar que as características e propriedades das frutas são mantidas.
“O processamento pela radiação para alguns alimentos é seguro e eficiente, mas não dispensa as boas práticas de manuseio e fabricação”, destaca a pesquisadora do Ipen Anna Lucia Villavicencio. Alimentos com alto teor de gordura não são bons candidatos ao método, capaz de reduzir carga microbiana, controlar pragas agrícolas e inibir brotamento. As doses aplicadas nos alimentos deverão seguir a legislação que determina os parâmetros sensoriais, pois cada alimento tem sua característica própria.
No processo de irradiação, são utilizadas fontes de cobalto ou aceleradores de elétrons. Neste último, que implica em menor custo, a radiação atua superficialmente. É indicado, por exemplo, para irradiação de hambúrguer, como mostrou estudo recente desenvolvido em parceria com uma grande indústria nacional
Outras pesquisas orientadas por Villavicencio versam sobre palmito in natura, vegetais minimamente processados, erva-mate in natura (utilizada na preparo do chimarrão), salmão cru, fermento biológico seco, soja, açaí, pistache, entre outros alimentos. A detecção de alimentos irradiados é uma linha de pesquisa do grupo. É possível precisar o quanto de dose recebeu o produto.
Os estudos visam a oferecer alimentos com melhor qualidade e higiene para o consumidor. O objetivo sempre é o de manter as propriedades nutricionais dos alimentos.
Entrevistas realizadas no ano passado com voluntários entre 18 e 55 anos, que se encontravam na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, mostraram que 42% não possuíam nenhum conhecimento sobre irradiação de alimentos, 48% pouco conhecimento e 10% razoável conhecimento sobre o tema. Do total de entrevistados, 48% declararam que provavelmente comprariam e 31% certamente comprariam. Mostraram-se indecisos 15%, 7% provavelmente não comprariam e 2% afirmaram que certamente não o fariam.

Como a tecnologia pode ajudar

- Especialmente países de clima tropical como o Brasil estão suscetíveis à deterioração de alimentos, devido à ação de parasitas e microorganismos como fungos e bactérias.

- Alguns fungos produzem substâncias tóxicas e geralmente cance-rígenas. Eles alteram qualidades físicas, sanitárias e nutricionais de alimentos.

- A irradiação de alimentos impede a multiplicação de células vivas como bactérias, que causam deterioração do alimento, ao alterar suas estruturas moleculares.

- Com isso, são destruídos microorganismos causadores de doenças, inclusive os vermes, parasitas e insetos que deterioram os alimentos armazenados.

- Vários métodos para detecção de alimentos irradiados são estudados e aprimorados, visando a simplificação da técnica e maior precisão.

- Processos como a refrigeração e congelamento podem promover alterações físicas e químicas nos alimentos, prejudicando a absorção de macro e micronutrientes e elementos-traço pelo organismo.

- Em alguns casos, a técnica de irradiação pode ser aplicada junto à refrigeração, para prolongar o tempo de prateleira do produto. No caso do palmito in natura, os pesquisadores estudam a eficiência do procedimento.

- Alguns fumegantes utilizados pelo setor agrícola são prejudiciais à saúde humana e agridem o meio ambiente, contribuindo com a destruição da camada de ozônio.

Fonte: IPEN

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